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Não há botão-retrocesso
para a vida
– O interminável trabalho
em progresso de Mark Amerika
De:
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Não há botão-retrocesso para a vida – O interminável trabalho em progresso de Mark Amerika
Curadoria de Ana Carvalho
artista: Mark Amerika
Abertura: 24.03 (QUI), a partir das 18h
Patente até: 07.05
Programação paralela: E-X-S-I, 11h às 16h
[Entrada Livre]
Sinopse
As formas de texto experimental de Mark Amerika evoluem como parte do que ele chama de “um conceito expandido de escrita”, ampliando a presença da palavra do livro para o vídeo e para a performance ao vivo, resultante de um diálogo íntimo com autores, artistas e escritores, entre eles Alfred North Whitehead, Chris Marker, Ingmar Bergman, Kathy Acker, Hélène Cixous, Clarice Lispector, Marcel Duchamp, Jacques Derrida e William Burroughs. Ao longo do percurso de Amerika, e especialmente na seleção de obras de arte em vídeo apresentada em Não há botão-retrocesso para a vida, a ação de remixagem torna-se numa forma de conversar. Semelhante às estratégias situacionistas de criação a partir da vida quotidiana, Amerika usa recontextualizações do imediato de qualquer matéria-prima disponível a qualquer momento para criar um glitch na alma da máquina. Surge uma série de mash-ups inesperados que esteticamente renderizou uma presença ontologicamente perturbadora no campo da distribuição.
A exposição na sala de exposições da Saco Azul / Maus Hábitos apresenta o trabalho de Mark Amerika em diversos formatos de vídeo, no cruzamento de vários géneros e práticas artísticas: vídeo-pedagogia, vídeo-ensaio, vídeo-musical, vídeo-NFT, vídeo-glitch e vídeo-poesia. A performance para a câmara, a gravação a partir do Google Maps e as imagens provenientes das profundezas do arquivo da Internet e combinadas com animações em 3D, presentes no trabalho de Mark Amerika, demonstram uma continuidade e inseparabilidade entre o estilo de pós-produção de Amerika, a vida do artista e o infinito número de obras de arte produzido.
Texto Curatorial
Ao longo da última década, temos vindo a assistir ao surgimento da fotografia e da videografia móveis. O filme Immobilité (2007-2009), do artista intermédia Mark Amerika, foi talvez a primeira obra de arte a usar o telemóvel como ferramenta para captura de imagens na construção de uma longa-metragem. Em Immobilité (o título é um trocadilho com a natureza dos telemóveis), Amerika combina texto e videografia móvel com uma peça sonora de eletrónica experimental para contar uma intricada história ficcional-teórico-factual sobre um trio de reclusos nómadas que passa o seu tempo a capturar imagens de si próprios e de uma paisagem do mundo onde tentam sobreviver.
A produção de arte digital a partir do oceano cultural de informação é essencial ao trabalho de Mark Amerika. Se o remix, enquanto "cola cultural" (Eduardo Navas), serve como forma de associar o comportamento da informação para juntar matéria digital, então é o simulacro baudrillardiano que define o território das ações artísticas de Mark Amerika. Objetos culturais, nativos digitais ou digitalizados, tornam-se a principal matéria-prima à disposição de cada artista no seu processo de construir o que Amerika chama de objetos imaginários de média digital, uma estratégia de pós-produção que cresce a partir do que Nicolas Bourriaud chama de "guião cultural" que os artistas manipulam para "reprogramar o mundo". Agora que infinitos fluxos de dados estão disponíveis, os jardins dos nossos vizinhos são vistos através de cercas em vez de paredes. "Cobiça o código-fonte do teu vizinho", Amerika escreve no seu remix dos Dez Mandamentos. O que é exatamente o que ele faz. Amerika opera como persona-performance onde tudo é parte de um jogo justo desde que alimente o processo criativo. Uma vez selecionada intuitivamente a matéria-prima escolhida, somos livres para manipular o infinito trabalho em progresso, da mesma forma que a nossa própria consciência se tornou agora uma forma mutável e reproduzível. A singular noção de criação original já não é necessária (alguma vez foi?). Tudo está em processo de potencialmente se tornar parte de infinitas novas combinações. Sob essa perspectiva, é central o papel do artista-como-editor, bem como a “prática como estilo de vida” cut/paste (como diz Amerika), ou seja, a seleção natural de ações e ferramentas digitais tornam-se extensões do corpo do artista performer. Não terá sido a criação sempre recriação?
Usar o telemóvel como ferramenta para a produção de longas-metragens exige que o artista esteja imerso na prática da vida digital quotidiana e que interprete a personagem principal na sua própria história,o que dá lugar a uma infinitude de personae digitais que intervêm ativamente em diferentes contextos. Como no trabalho de outros artistas contemporâneos, nomeadamente Eleanor Antin, Lynn Hershman Leeson e Amelia Ulman, as personae de Mark Amerika vão desde o blogger-artista conhecido como Professor VJ ao artista-professor Walt Whitman Benjamin, ao escritor-remixer conhecido como The Playgiarist, ao mítico Artist 2.0, entre uma lista imensa de tantos outros, e estendendo-se, ainda, a trabalhos colaborativos e personae coletivas.
As formas de texto experimental de Mark Amerika evoluem como parte do que ele chama de “um conceito expandido de escrita”, ampliando a presença da palavra do livro para o vídeo e para a performance ao vivo, resultante de um diálogo íntimo com autores, artistas e escritores, entre eles Alfred North Whitehead, Chris Marker, Ingmar Bergman, Kathy Acker, Hélène Cixous, Clarice Lispector, Marcel Duchamp, Jacques Derrida e William Burroughs. Ao longo do percurso de Amerika, e especialmente na seleção de obras de arte em vídeo apresentada em Não há botão-retrocesso para a vida, a ação de remixagem torna-se numa forma de conversar. Semelhante às estratégias situacionistas de criação a partir da vida quotidiana, Amerika usa recontextualizações do imediato de qualquer matéria-prima disponível a qualquer momento para criar um glitch na alma da máquina. Surge uma série de mash-ups inesperados que esteticamente renderizou uma presença ontologicamente perturbadora no campo da distribuição.
A exposição na sala de exposições da Saco Azul / Maus Hábitos apresenta o trabalho de Mark Amerika em diversos formatos de vídeo, no cruzamento de vários géneros e práticas artísticas: vídeo-pedagogia, vídeo-ensaio, vídeo-musical, vídeo-NFT, vídeo-glitch e vídeo-poesia. A performance para a câmara, a gravação a partir do Google Maps e as imagens provenientes das profundezas do arquivo da Internet e combinadas com animações em 3D, presentes no trabalho de Mark Amerika, demonstram uma continuidade e inseparabilidade entre o estilo de pós-produção de Amerika, a vida do artista e o infinito número de obras de arte produzido.
Ana Carvalho
BIOS:
Artista
Mark Amerika é professor na Universidade do Colorado em Boulder, diretor fundador do Programa Doutoral em Arte Intermédia, Escrita e Performance na Faculdade de Média, Comunicação e Informação e professor de Arte e História da Arte. Amerika, que em 2001 foi selecionado pela Time Magazine como um dos 100 inovadores, exibiu a sua obra internacionalmente em locais como a Whitney Biennial of American Art, o Museu de Arte de Denver, o Instituto de Arte Contemporânea em Londres, e o Walker Art Center. Em 2009-2010, o Museu Nacional de Arte Contemporânea de Atenas, Grécia, recebeu a exposição da extensa retrospectiva de Mark Amerika, intitulada UNREALTIME. Em 2009, Amerika lançou Immobilité, de forma geral considerada a primeira longa-metragem artística gravada com telemóvel. É autor de muitos livros, incluindo remixthebook (University of Minnesota Press), META / DATA: A Digital Poetics (The MIT Press), remixthecontext (Routledge) e Locus Solus: An Inappropriate Translation Composed in a 21st Century Manner (Counterpath Press). A sua obra transmédia expandida Museum of Glitch Aesthetics foi comissariada pelo Festival Abandon Normal Devices em conjunto com as Olimpíadas de Londres 2012. O projeto tem sido remisturado por curadores para exposições físicas, incluindo a exposição ‘Museum of Glitch Aesthetics’ para o Festival AND, 'Glitch. Clique. Thunk, patente na University of Hawaii Art Galleries, e ‘GlitchMix: not an error’, em Havana, Cuba.
Curadoria
Ana Carvalho é professora, investigadora e artista audiovisual, desenvolvendo-se a sua atividade em torno das artes e culturas digitais. Desde 2017 é Professora Auxiliar e Coordenadora da Licenciatura Arte Multimédia da Universidade da Maia, lecionando nas áreas da cultura digital, das teorias da imagem e comunicação gráfica. Como investigadora, é membro do CIAC (Centro de Investigação em Arte e Comunicação, da Universidade do Algarve) e do CITEI (Centro de Investigação em Tecnologias e Estudos Intermédia, Universidade da Maia). Desde 2014, é responsável pelo projeto Ephemeral Expanded. Atualmente integra a equipa de investigação do projeto CyPET, financiado pelo FCT, no contexto do qual se estudam as intersecções entre a ciberperfomance e os novos modelos de ensino online. No âmbito da investigação inclui-se ainda o seu trabalho de curadoria, tendo sido uma das curadoras da exposição Omnisciência Estratégias de Fractura e Fuga (Fórum da Maia, 2021); a organização do evento E-X-S-I Encontro de Expressões entre Som e Imagem (desde 2016) e a co-edição do livro The Audiovisual Breakthrough (2016). Nos seus projetos artísticos explora as possibilidades narrativas entre a ficção e a realidade destacando-se no seu percurso as performances audiovisuais apresentadas em Serralves (Porto), no Experimental Intermedia (Nova Iorque) e no Paço das Artes (São Paulo).
Artista: Mark Amerika
Programação, Produção e Gestão: Mariana Vitale
Gestão de Conteúdos Digitais e Comunicação: Filipe Confraria, Mariana Vitale
Assessoria de Imprensa: Filipe Confraria
Design: Studio Dobra
Montagem: Alexandre Simões
Estágio em produção e comunicação: Jessica Roque
Fotografia:
Limpeza: Manuela Pinto
Organização e Direção Artística: Saco Azul & Maus Hábitos
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